Diz-me, onde pára ele? Oh, o nostálgico relembrar de uma Lisboa perdida!Aquela da infância, preenchida por automóveis fumadores, luzes incandescentes e uma dor de cabeça bem merecida ao fim do dia. A agitação frenética dos humanos que se cruzam vezes sem conta, sem sequer darem conta disso. (Não, não era minha intenção fazer um jogo de palavras barato numa tentativa de embelezar o texto! Quem me conhece sabe que não me meto nisso!). Os cenários cinzentos e monótonos de Lisboa. O combustível humano que é accionado à base da indiferença. Os museus. As memórias individuais. Flashes. Nostalgia sufocante. E se a minha melhor recordação de Lisboa nunca tivesse, de facto, acontecido? Pânico.
Lembro-me das noites de Bairro Alto, regadas a Absinto e inconsciência juvenil - o inicio da perda da inocência. Drogas. Tentativas de engate frustradas. Diálogos existencialistas com taxistas. O sobressalto constante dos assaltos. Agora que olho para trás, choro pelo que me deveria fazer sorrir. Para mim, o recordar será sempre algo triste e melancólico.
Quando penso nessa Lisboa adolescente e cheia de vida, apercebo-me que o nosso maior crime era somente a Diversão. Por vezes rude, por vezes absurda - mas mesmo assim Diversão.
Eram tempos complicados e o nosso comportamento era reflexo disso. E eu era bom nisso. No alinhar. No fazer parte. No estar na linha da frente.
Ah, Lisboa! Morro por dentro quando me lembro dos túneis, do anoitecer, dos semáforos compactos e do irritante tráfico. Vou olhando o rio que jaz sobre a ponte e lambo as lágrimas que temperam o sabor horrível da seguinte constatação: a Lisboa que eu conheço já não existe. Jaz.



